sábado, 28 de agosto de 2010

Como os alunos fazem buscas na internet


O que o aluno deve buscar na rede, onde e como 

O primeiro problema que se coloca para os estudantes ao pesquisar na internet é onde encontrar o que se quer. Em geral, acessam um site de busca (tipo Google) e digitam uma ou mais palavras. Há três comportamentos padrão. Quando quer apenas se divertir, o jovem clica no primeiro resultado de busca e vai para o novo site. Na hora de buscar conhecimento geral, ele clica em no máximo dois sites, até achar o tema em questão. Finalmente, quando tem de localizar algo específico para uma tarefa escolar a complexidade aumenta: o aluno faz a busca, lê o site, tenta avaliar a qualidade dos dados oferecidos e refaz o processo várias vezes, até ter alguma certeza de que os nomes, números e datas conferem. Mas o processo é eficaz? "Isso prova que buscar informação na internet é altamente complexo, é uma prática social de leitura e, portanto, requer auxílio constante do professor", explica Flora Perelman.

Mariana Ornique, também da equipe que realiza o estudo, conta que, quando o professor não orienta o trabalho, o mais comum é a turma digitar qualquer coisa na tela, sem pensar muito. "Só que a página de busca não é capaz de interpretar nada." Por isso é fundamental discutir o que exatamente se quer encontrar - antes de clicar. Em outras palavras, é preciso levar os alunos a entender a diferença entre pedir informação a alguém e à máquina. Só assim a tecnologia é usada a favor do usuário e da aprendizagem.

Na hora de escolher, confiança é a chave 

O terceiro passo é aprender a selecionar os sites "Na dúvida, as crianças muitas vezes optam por um ‘.org’ ou ‘.gov’, porque acreditam que páginas não-comerciais têm mais credibilidade", afirma outra pesquisadora, Vanina Estévez. "Será? Duvidar das informações é essencial e é preciso ensinar a turma a fazer isso." Segundo a pesquisa, os jovens acreditam muito na objetividade dos fatos históricos. Mas é essencial que eles compreendam que qualquer ponto de vista carrega consigo uma certa parcialidade - conhecimento, aliás, que deve ser explorado também em atividades sem o computador. Daí a importância de saber selecionar as informações confiáveis (a quarta conclusão do estudo). Afinal, nem tudo o que está disponível na internet é verdadeiro.

Como, então, levar a turma até dados confiáveis? "Essa é a questão quando se trata de explorar a tecnologia na escola", diz a pesquisadora Emilia Ferreiro, conhecida por seus estudos em alfabetização, mas que coordena trabalhos sobre o uso do computador em classe. "Quando alguém nos pergunta algo, imediatamente pensamos para que essa pessoa quer saber isso, aonde quer chegar. E a máquina não faz isso. Nenhum site de busca consegue interpretar como nós fazemos."

A força das imagens e como não se enganar 

Finalmente, María Rosa Bivort, também da equipe de Buenos Aires, chama a atenção para a importância da imagem na busca via internet. "Numa das tarefas propostas, os alunos tinham de encontrar fotos de imigrantes que vieram da Europa no século 19", conta ela. "Ao colocar palavras-chave nas ferramentas de busca, como ‘navio’ e ‘século 19’, algumas crianças encontraram fotos recentes de embarcações antigas em festas em homenagem aos imigrantes, por exemplo." Isso serviu para os professores explicarem que nem todas as imagens em sépia (aquele tom amarelado que as fotos em preto-e-branco ganham com o tempo) são velhas de verdade, pois esse efeito pode ser obtido hoje justamente graças à informática. Sem falar no próprio visual dos sites - um mais atraente pode "parecer" mais confiável, sobretudo para crianças menores.

Tudo isso só reforça a importância de cruzar informações e checar antes de simplesmente comprar o que aparece na tela. "A confiabilidade é mesmo o aspecto crucial", analisa Emilia Ferreiro. "A grande vantagem é que a máquina nos permite experimentar infinitamente. Podemos voltar, refazer, trocar tudo. E isso não causa nenhum problema ao trabalho, pois ele é 100% reversível. No entanto, precisamos ensinar a interpretar. Pois só assim vamos ajudar os alunos a construir conhecimento de fato."


FONTE: Gabriel Pillar Grossi (ggrossi@abril.com.br)

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