sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tecnologias na Educação: esse bicho morde?

Recentemente, em um fórum de educadores na internet, deparei-me com duas indagações, em princípio colocadas de forma independentes:
· “Que benefícios reais educadores e educandos podem obter a partir da introdução das tecnologias de informação e comunicação?
· Que desafios e dificuldades surgem com a incorporação das tecnologias à prática educacional


Na verdade, as duas perguntas são complementares e devem ser respondidas sob um mesmo foco. A introdução das TICs no meio educacional traz em seu bojo desafios, contradições e perspectivas múltiplas, que tornam o trabalho dos profissionais que a ela se dedicam complexo e sério.
Em primeiro lugar, é inegável o aspecto fomentador do desenvolvimento de competências e habilidades – e isso, mirando-se tanto o universo do educando quanto o universo desse “novo professor”. Novas competências relacionais, cognitivas, produtivas e pessoais são demandadas, em cada nova situação tecnológica, como a administração comportamental em uma sala de chat, a moderação responsável e equilibrada de grupos, a motivação de equipes a distância, a organização e planejamento dos conteúdos de forma agradável, a resolução de conflitos inter-relacionais.
O “novo aluno” precisa aprender a otimizar seu tempo e a lidar com toda uma parafernália disponível de recursos, empregando-os de forma responsável e, ao mesmo tempo, dividindo, com o seu professor, novos jeitos e “sabores” no aprendizado. Já o “novo professor” tem à sua frente um universo inesgotável de possibilidades, que podem tornar a relação com os sujeitos e os objetos de aprendizagem muito mais eficazes e eficientes.
Alguns adjetivos poderiam definir, de forma bastante concisa, os novos aspectos desse aprendizado, traduzidos em benefícios quase imediatos:
- dinamismo (com a tecnologia, o acesso à informação, se bem orientado, pode ser muito mais ágil, rápido e eficiente);
- ludicidade (alguém duvida do prazer que os alunos têm, com suas descobertas nesse novo mundo tecnológico?),
- precisão (com determinação e orientação sistemática do foco, pelo educador, o ato de pesquisar pode ser bem mais correto),
É importante, no entanto, não nos deixarmos cativar por uma visão imediatista, imaginando que é um universo sem desafios a serem enfrentados. Há que se ter em mente uma visão conjuntural de um país imerso em desigualdades sociais, econômicas, culturais e até mesmo de vontades e posturas políticas. E os desafios são imensos.
Resistência! Talvez o primeiro e maior deles… A resistência ao novo. A resistência corporativista, que se agarra com unhas e dentes a uma realidade antiga, conformista e que assegura determinadas relações de poder, de comando e de relações sociais. Acompanhei de perto, por exemplo, o trabalho de implantação de TICs no interior de um determinado Estado brasileiro. Lá, em cidades onde até há bem pouco tempo a luz elétrica foi uma novidade, vi diretoras que ainda defendem a palmatória, para alunos que porventura surrupiem a bolinha do mouse. Vi – não foram poucas! – diretoras que receberam computadores novinhos em folha e deixaram que todo um laboratório de Informática caísse na obsolescência, por total falta de uso, com “medo” de que seus alunos estragassem as máquinas. Vi diretoras que levavam a chave dos laboratórios de Informática consigo, para casa, numa demonstração inequívoca de que o uso racional das tecnologias requer educação de base, competência gerencial e, acima de tudo, bom senso. Nessa trajetória, tenho acompanhado de perto professores que se amedrontam, crendo que a máquina irá substituí-los. Gosto sempre de dizer que o professor que um dia for substituído por um computador terá merecido a substituição!
Gestão competente dos recursos disponíveis é outro mega-desafio! E, aqui, cabe dizer que o termo “gestão” aplica-se não somente a diretores, mas a todos os atores sociais do processo educativo. É extremamente comum percebermos o uso de máquinas de última geração para aplicabilidades antigas. Computadores encarados como máquinas de escrever avançadinhas e modernas. Salas de informática de escolas utilizadas para aprender digitação e fazer desenhos no Paint Brush. Ou, ainda pior, conteúdos sendo digitalizados com a mesma feição e a mesma (IMPER)feição dos conteúdos impressos – mera transferência da ausência de qualidade, mera sub-utilização das potencialidades de uma ferramenta.
Creio que os desafios que ora enfrentamos são naturais. Não vivi os dias em que chegaram, pela primeira vez, os livros, às mãos do grande público. Mas imagino como deve ter sido sofrido e caótico o longo período de transição, até que o saber se disseminasse com a palavra impressa, saindo das cúpulas dos grandes mestres para a população, sedenta por conhecimento. Vivemos, creio, esse tempo novo da disseminação. Os “proprietários” desse saber estão aflitos, vendo-o escorrer por suas mãos. A grande massa, ansiosa por ele, está ávida, como quem corre ao pote de mel em meio à fome. Natural que assim aconteça.
(Ney Mourão)

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